Quem são os rentistas (que muitos adoram falar mal)?
Rentistas e pró-rentismos. Por um momento me vi distante dos preceitos da moral e dos bons costumes. Em minhas divagações em algum momento, me vi defendendo o indefensável: o rentismo!
Mas, nesse momento de início de corrida eleitoral, torna-se importante explicar o que o rentismo realmente significa: modo de vida de quem vive de rendas. Geralmente, a classe política e seguidores de todas as estirpes acabam acusando esse grupo de pessoas, colocando-as no pódio das mazelas do Brasil.
Dizem que a Faria Lima quer cada vez mais que os juros subam para aproveitar das rendas auferidas pelos títulos públicos.
Nesse quesito, três pontos cruciais precisam ser esclarecidos, listados a seguir:
1. Apesar de os bancos ganharem com maiores taxas de juros no curto prazo, essas afetam negativamente o crescimento do país, a criação de renda e emprego, além de aumentar a inadimplência bancária.
Um crescimento econômico de 5% ou 6% certamente seria preferencial, dado o maior número de consumidores propensos a consumir mais com o emprego e renda em alta. Investidores com menores custos de oportunidade preferirão investir mais em formação bruta de capital, com auxílio do mercado financeiro e ou de capitais. Portanto, bancos e o mercado financeiro preferem mais crescimento econômico e não menos via aumento de juros;
2. Existe uma enorme confusão legítima ou “populista safada” mesmo, no sentido da causalidade entre quem oferta e oferece condições ao rentismo e quem demanda o rentismo.
Explico, quando o governo gasta mais do que pode e entra em uma dinâmica explosiva da dívida pública, ou quando o custo real de carregamento da dívida é maior que o crescimento econômico do país e o superávit primário, então os financiadores dessa dívida pública (os rentistas) cobram um rendimento (juro) maior, dado um risco fiscal maior. Quem pariu quem aqui?
3. Erra quem diz que os maiores financiadores da dívida pública são os bancos. Defender bancos não levanta arquibancadas, mas uma breve pesquisa no site do Tesouro Nacional mostra que as instituições financeiras são responsáveis por menos de 30% do financiamento da dívida pública.
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Como mostra o gráfico abaixo, 23,8% da nossa dívida pública é financiada por poupadores, eu, você, as empresas com excesso de caixa que emprestam para o governo via fundos de investimentos.
Óbvio que o defensor de guardar o dinheiro no colchão gritará “eu não me incluo nesse segmento”. Pode ser, mas a nossa bondosa Tia Inês, Olga, Rute ou Yolanda devem ter seu dinheiro no FGTS ou Governo (4,4%) ou ainda 4% investido ou aportado em seguros de carros, vida, saúde e 22,3% em previdência social aberta e fechada, além dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) via PGBL ou VGBL, sendo o restante de 10,5% financiado por credores estrangeiros. (Você pode ter mais informações no livro: “Déficit Público – O Brasil na Encruzilhada Fiscal”: Fábio Giambiagi. Ed. Alta Books)
Detentores da dívida pública: Nov/2021. Títulos Públicos Federais
Fonte: Tesouro Nacional. DPMFi. Divida Pública Mobiliária Federal Interna
Ou seja, neste novo ano, que promete ser desafiador – adoro essa palavra, que suaviza e muito a situação atual da economia -, que entendamos os discursos dos paladinos do nosso crescimento econômico. Eles esquecem levianamente que a responsabilidade por um crescente risco fiscal não é minha, nem sua e muito menos da querida Tia Yolanda rentista.