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Governo já trabalha com PIB melhor para 2023 em cenário desafiador para BC

BRASÍLIA (Reuters) – O governo se prepara para fazer uma revisão positiva da projeção oficial para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023, após dados recentes apontarem para uma maior resiliência da atividade econômica, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto, em movimento que acompanha tendência também observada em estimativas de analistas privados.

O Ministério da Fazenda ainda roda os dados para fechar a estimativa a ser divulgada na próxima semana, mas as duas autoridades asseguraram que a projeção ficará acima da apresentada em março, de crescimento de 1,61% neste ano.

Uma atividade mais forte pode colocar pressão sobre o Banco Central, que tenta esfriar a economia para conter a inflação. A autoridade monetária é alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, sem dar sinal sobre quando poderia iniciar os cortes na taxa.

“Alguns dados importantes estão vindo acima da expectativa”, disse uma das fontes, sob condição de anonimato porque as discussões não são públicas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia indicado no fim de abril que a projeção oficial para o PIB em 2023 poderia ser revista para cima após dados positivos do mercado de trabalho e alta da atividade maior do que a estimada. Ele vem argumentando, porém, que a atual capacidade ociosa da economia dá espaço para o aumento da produção sem alta de preços.

Os sinais de resistência da economia brasileira também aparecem nas projeções de instituições financeiras. O Bradesco elevou no fim de abril sua estimativa para o PIB de 2023 de 1,5% para 1,84%, enquanto o Itaú subiu a projeção de 1,1% para 1,4%.

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O boletim Focus do Banco Central, que capta as projeções de mercado para a economia brasileira, saiu de um crescimento de 0,78% previsto no início do ano para uma alta de 1% na projeção mais recente.

Desde o início do ano, o governo promoveu uma série de iniciativas que estimulam a demanda e podem dar tração à atividade, como o reforço do Bolsa Família, aumento real do salário mínimo, reajuste a servidores públicos, retomada de investimentos e programas habitacionais e ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda.

Por outro lado, para ajustar as contas públicas, a Fazenda tem anunciado medidas de ajuste fiscal, principalmente pelo lado da receita, como o programa de regularização de dívidas tributárias e a cobrança de Imposto de Renda sobre ganhos de investidores brasileiros no exterior. A pasta também apresentou uma proposta de arcabouço fiscal que limita o crescimento das despesas a 70% das receitas e prevê uma trajetória de estabilização da dívida pública.

Haddad tem argumentado que essas medidas abrem caminho para que o Banco Central reduza os juros no país.

A autoridade monetária, porém, afirmou em seus comunicados que as expectativas de inflação seguem fora dos intervalos da meta e pregou paciência no manejo da taxa de juros. Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária também destacou que os dados de emprego “têm apresentado resiliência”.

A mais recente projeção do BC para o PIB de 2023 foi feita em março, quando a autarquia previu um crescimento de 1,2% em 2023, contra 1% antes. O dado será revisado no final de junho.

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A estimativa da Fazenda será oficializada na próxima segunda-feira e servirá de base para a avaliação das contas do governo. Uma revisão do PIB para cima sugere uma expectativa maior para a arrecadação de impostos no ano, o que tende a melhorar o resultado fiscal.

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