Mais produtos, novos nichos de negócios e nova experiência: integração entre Open Banking e Pix deve beneficiar varejistas
SÃO PAULO — Casas Bahia (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3), Mercado Livre (MELI34), Amazon (AMZO34), Americanas (LAME4): as varejistas cada vez mais vêm ganhando protagonismo, aumentando portfólio de produtos, e oferecendo diferentes serviços, até streaming.
E o leque de oportunidades de negócios tende a aumentar com a chegada da fase 3 do Open Banking no Brasil, cuja principal novidade é a integração com o Pix, sistema de pagamentos instantâneos criados pelo Banco Central.
Nesta nova etapa, os consumidores poderão fazer transações, como pagamentos e transferências, utilizando o Pix no âmbito do Open Banking. Ou seja, será possível fazer um pagamento via Pix por canais que não necessariamente são o internet banking do seu banco.
Uma nova figura regulada pelo Banco Central entra no ecossistema: os iniciadores de pagamentos (ITPs). Atualmente, o Pix está disponível para as instituições financeiras que aderiram à infraestrutura conforme as regras definidas pelo BC e implementadas no ano passado, quando o serviço começou a funcionar.
Ou seja, as varejistas que podem passar a oferecer ITPs próprios oferecendo ao cliente uma nova opção de pagamento.
E por que essa possibilidade é uma vantagem?
O InfoMoney contatou especialistas de consultorias especializadas em Open Banking e houve um consenso: as varejistas só tendem a ganhar com a fase 3 funcionando.
“As varejistas poderão se tornar iniciadoras de pagamento e começar a oferecer em seus próprios canais uma nova opção de pagamento, primeiro com Pix e depois com outros formatos conforme o Open Banking avançar. E essa possibilidade abre portas para que essas empresas também ofertem produtos financeiros ao ter contato com um cliente que potencialmente não tinham antes”, diz João Bragança, diretor da Roland Berger.
O iniciador de pagamentos funciona como uma nova camada no processo de pagamento. O usuário poderá fazer um pagamento via Pix usando um app de uma varejista, mas movimentando seu dinheiro da conta corrente que possui em um banco, por exemplo. E para fazer isso precisa dar o consentimento do compartilhamento de dados com esse ITP.
Para uma pessoa fazer um Pix era necessariamente obrigada a acessar os canais do banco. Com a fase 3 ganhando força e as empresas desenvolvendo soluções, isso não será mais necessário.
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A grande vantagem para a varejista, segundo Bragança, é que o seu modelo de negócio já funciona bem, e o serviço financeiro não é o seu core. Essa fase transacional do Open Banking chega para agregar ao negócio mais possibilidades.
“O que a varejista precisa é de um bom relacionamento com o cliente e recorrência, o que as grandes marcas já possuem, para que consigam vender produtos dos seus respectivos portfólios”, acrescenta Bragança.
“Quando você abre o app de um banco, por exemplo, não necessariamente você vai comprar um novo produto do banco. Você pode simplesmente querer fazer uma transação que pode ter vários fins. Mas na varejista, a tendência é o cliente procurar a empresa para comprar algo. Quanto mais ele acessa mais pode comprar. E as varejistas sendo ITPs vão ter mais um canal de contato com esse cliente”, complementa.
Eduardo Yamashita, COO da consultoria de varejo Gouveia e Sousa, também entende que a fase 3 e o Open Banking são boas notícias independentemente do tamanho.
“É mais diversificação de receita, mais uma possibilidade de rentabilizar. As varejistas poderão atuar com um portfólio ainda maior, com oferta de serviços mais competitivos”, diz.
E ele menciona outro ponto importante: a capacidade de dados que essas empresas já possuem.
“As varejistas são grandes detentoras de dados de consumo, que é uma vantagem estratégica do setor, e com a possibilidade do compartilhamento consentido pelo usuário a base de dados vai aumentar passando a conter informações transacionais também – desde que essa varejista seja uma ITP. Antes apenas as instituições financeiras detinham esses dados de pagamentos”, explica Yamashita.
Vale lembrar que há regras para uso desses dados por parte das empresas sempre conforme à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Desafios
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O ativo das varejistas é que a matéria-prima que alimenta o caixa é a relação com o cliente, mas Bragança pontua que ainda é cedo para dizer se esse movimento positivo será generalizado. “Há várias possibilidades de negócios e nem todo cliente vai querer centralizar a vida financeira dele em um app de uma varejista. Tem agregadores de contas, por exemplo, que podem competir por esse espaço também”, diz Bragança.
Yamashita acredita que à medida que os ITPs começarem a funcionar, os consumidores vão ver o valor rapidamente. “O consumidor vai se adaptar rápido. Usar o iniciador promete ser muito prático e vantajoso para o cliente, além de transparente. Por trás, as batalhas serão várias, mas no dia a dia do consumidor serão várias novas opções à disposição. O desafio para os players será pensar como se diferenciar em meio à tanta competição”, avalia.
Cláudio Sertorio, sócio-líder de serviços financeiros da KPMG Brasil, aponta que uma preocupação das varejistas é em relação à proteção de seus clientes.
“As grandes empresas do setor transacionam milhões de operações por dia, e isso potencializa o risco com a chegada de uma nova tecnologia e ecossistema. Os ataques estão cada vez mais sofisticados, e todo o sucesso depende da credibilidade e da boa experiência do cliente”, afirma.
O Open Banking tem regras definidas de padrões de segurança que são obrigatórias para os participantes, que são regulados pelo Banco Central. “E a fase 3 e a integração com o Pix é estratégico para o Banco Central, a fiscalização vai ser rígida para ninguém sair da linha”, avalia Sertório.
O InfoMoney fez uma reportagem sobre os riscos associados à fase 3, bem como uma matéria que dicas para ajudar o consumidor a evitar golpes.
Jornada do usuário no varejo
A integração entre Pix e Open Banking, que entrou em vigor no último dia 29, é possível graças aos chamados iniciadores de transação de pagamento (ITPs). Ou seja, empresas que serão reguladas pelo Banco Central para oferecerem ao usuário o Pix como opção de pagamento, porém não são elas que movimentam o dinheiro, nem fazem a liquidação da operação.
Isso significa que lojas online, marketplaces, e varejistas poderão se regular para aturem como iniciadoras, o que pode mudar a experiência do consumidor.
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O InfoMoney já preparou uma reportagem que mostra as seis etapas que o consumidor vai encontrar ao usar um ITP para fazer pagamentos e/ou transferências, mas a governança do Open Banking também definiu e deu um exemplo de como seria a jornada em um marketplace.
Veja como vai funcionar, de acordo com o manual de experiência do usuário publicado pelo Open Banking Brasil, site da governança do Open Banking no país:
Etapa 1: Iniciação do pagamento e redirecionamento
Etapa 2: na instituição detentora da conta
Etapa final
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