Alta nas despesas permanentes preocupa economistas, mesmo com superávit em janeiro
Publicidade
O resultado primário do governo central divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Tesouro trouxe dados que preocupam do ponto de vista da tendência para as contas públicas em 2024. O dado final mostrou um superávit de R$ 79,3 bilhões, mas além de ele representar uma queda real ante janeiro de 2023, a elevação das despesas, especialmente as recorrentes, foi destacada pelos especialistas.
Em janeiro, houve superávit primário de R$ 79,3 bilhões, em linha com o esperado pelo mercado – ante um déficit de R$ 116,1 bilhões em dezembro passado. Mas o saldo positivo tinha sido de R$ 78,9 bilhões em janeiro de 2023. Assim, descontada a inflação do período, o resultado neste ano, foi 3,8% inferior, ainda que tenha sido o terceiro melhor do registo histórico.
E dentro da conta, há detalhes a serem considerados. Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, frisou que o governo começa o ano com crescimento real de despesa de 6,8% em relação a janeiro de 2023.
Masterclass
As Ações mais Promissoras da Bolsa
Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita
“Lembrando que esse é um crescimento em cima da base de janeiro de 202 que já havia crescido 6%. O resultado mostra que é praticamente impossível zerar o déficit somente olhando o lado da arrecadação”, comentou, destacando o crescimento de 16,1% do BPC e da alta de 21,5% das despesas vinculadas, como o Fundeb
A XP também destacou o crescimento das despesas em relatório. Os gastos no mês foram impulsionados pelos benefícios previdenciários (4,4%), pelo seguro-desemprego (20,3%) e pelo auxílio a idosos e deficientes BPC/LOAS, todos refletindo o aumento do salário-mínimo, e do Fundeb, devido ao aumento da participação do governo federal na complementação do fundo.
“Além disso, houve aumento substancial nas despesas discricionárias (18,9%), principalmente com saúde, educação e transporte”, citou a XP
Continua depois da publicidade
Enquanto isso, a receita líquida cresceu 3,0% em termos reais em relação a janeiro de 2023. Os destaques foram o imposto de renda retido na fonte sobre os rendimentos de capitais (+19,1%), impulsionado pela tributação dos fundos exclusivos sobre os rendimentos acumulados , uma medida pontual. Já as receitas previdenciárias subiram 7,1%, graças aos efeitos do mercado de trabalho aquecido.
“Houve ganhos nas receitas fiscais, mas estes foram parcialmente impulsionados por eventos não recorrentes, pelo que é importante não encarar isto como uma tendência ascendente”, ponderou a XP no relatório.
“Esperamos que o governo consiga arrecadar receitas com base nas medidas aprovadas no ano passado. Isso deverá ficar mais evidente a partir de fevereiro, quando será fundamental verificar se haverá, de fato, mudança na tendência do resultado primário. E, sobretudo, se o governo conseguirá aproximar-se da meta de déficit zero.”
Já Gino Olivares economista chefe da Azimuth Brasil Wealth Management, também focou sua atenção na alta real de 6,8% nas despesas totais em janeiro. “A maior parte dos aumentos tem natureza permanente. E esse é o problema crônico das contas públicas brasileiras: todo aumento de despesa tem natureza permanente, enquanto os ganhos de arrecadação costumam ser temporários”, alertou.
Foi o que aconteceu no mês, já que o crescimento de 3,8% em relação ao resultado de janeiro de 2023 teve significativa contribuição da taxação dos fundos exclusivos. “O problema aqui é que parte importante desse ganho de arrecadação foi devido à taxação do estoque e portanto não deverá se repetir.”
Olivares também alertou que, com a arrecadação aumentando ancorada em medidas de efeito temporário e despesas crescendo de forma permanente, fica extremamente difícil pensar em qualquer melhora sustentável das contas públicas. “Isso é apenas uma outra forma de ver o que já se sabia: sem um ajuste pelo lado das despesas, não haverá aumento de arrecadação que melhore o perfil da dívida pública brasileira”, afirmou.