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Seria Warren Buffett o último value investor? Para Motley Fool, esta prática resistirá

warren-buffett-youngApoiando-se no legado deixado por Benjamin Grahame David Dodd, Warren Buffett pode ser considerado atualmente o principal seguidor do value investing, talvez o último deles. Isso porque esta estratégia de investimento, bastante utilizada no passado, teve de ser adaptada ou mesmo substituída ao longo das últimas décadas. Mas para a publicação norte-americana Motley Fool, o futuro do value investment está garantido, basta olhar para o sucesso alcançado por seus seguidores.

De forma simplificada, os value investors são investidores que compram ações com foco em seus descontos em relação ao valor intrínseco da companhia, ou seja, papéis com múltiplos baixos. Esta opção de investimento, contudo, é vista por muitos como ariscada, mas para megainvestidores como Buffett, são oportunidades de multiplicar cifras.

Em 1965, quando Buffett chegou ao controle da Berkshire, uma empresa do ramo têxtil que também vendia seguros, as ações da companhia valiam menos de US$ 10 cada. No fechamento da última sexta-feira (15), as mesmas ações valiam US$ 97.500. Como se isso não bastasse, a Berkshire se tornou uma holding que possui participações importantes em companhias como Coca-Cola, Gillette, American Express, Conoco Phillips e bancos como Wells Fargo e Goldman Sachs.

Instabilidade econômica = oportunidade para value investors
Sem entrar no mérito da sustentabilidade do recente rali visto em 2009, períodos de instabilidade econômica são boas oportunidades de compra para este tipo de investidor raro aproveitar. Nestas ocasiões, o pânico do mercado pressiona as cotações dos papéis, que sofrem forte desvalorização, chamando atenção dos value investors, que estão sempre abertos ao risco calculado.

Vale destacar que, mesmo em meio à forte recessão global no último ano, Buffett acumulou US$ 3 bilhões de ganhos com a norte-americana General Eletric, tendo recentemente investido na ExxonMobil – maior empresa do mundo em valor de mercado – e na gigante suíça Nestlé. Ademais, o megainvestidor emprestou ao Goldman Sachs a pequena quantia de US$ 5 bilhões, que estrategicamente já deu retornos de US$ 2,4 bilhões, ao passo que a saúde do sistema financeiro dos Estados Unidos começa a demonstrar sinais de melhora.

Mas toda essa visão de Buffett de saber aproveitar os melhores momentos para fazer o investimento certo pode estar ameaçada. Segundo o Motley Fool, em 1934, quando Graham e Dodd publicaram uma de suas principais obras, Security Analysis, era muito mais fácil ser um value investor.

Na onda da grande depressão, que arrasou os mercados, “os ensinamentos de Graham e Dodd – de comprar ações por preços significativamente abaixo de seus valores intrínsecos – eram especialmente aplicáveis, uma vez que os valores estavam distorcidos, e muitas ações estavam significativamente subvalorizadas”, avaliou a publicação.

Entretanto, o Motley Fool destaca que os tempos mudaram. “Programas de computadores e gráficos de ações tornam mais fácil encontrar uma companhia que se encaixe em um perfil – até os menos experientes podem baixar arquivos enormes com históricos de desempenho e tirar conclusões. A vantagem de ter a habilidade de fazer o trabalho difícil se foi, perdida em um mar de estatísticas em meio a um mercado inundado por informação”, dramatizou o Motley Fool.

Em números, a publicação destaca que os índices value e growth evidenciam que a antiga estratégia tem ficado para trás. Em 2009, o índice Russell 1000 Value Index mostrou retorno de 19,2%, enquanto que o Russell 1000 Growth Index revelou alta de 36,7% no último ano. A análise do retorno nos últimos três (-7,9% contra -2,1%) e cinco anos (-1% contra +2,5) também favorece o índice que acompanha a estratégia growth nos EUA.

Ser value investor requer mais que visão de mercado
Somado às estatísticas ruins, outros pontos também contribuem para a extinção da cada vez menos utilizada estratégia de value investing. Entre eles, o Motley Fool avalia que é preciso muito mais que visão de mercado para ser um value investor – os investidores desse tipo devem ter também um temperamento que poucos possuem.

Para fundamentar seu ponto de vista, a publicação cita a resposta do gestor Jean-Marie Eveillard à pergunta: por que não há mais value investors, uma vez comprovado o sucesso de Buffett? A indagação foi respondida da seguinte maneira: “Se você é um value investor, todo ‘agora e depois’ faz você tomar o risco, ou experimenta o que os consultores chamam de tracking error. Isto pode ser bastante doloroso. Mas para ser um value investor, você tem que estar disposto a sofrer dores”.

Neste sentido, ser um value investor requer a prudência de saber a hora certa de investir. “Houveram mais crises financeiras nos últimos 30 anos do que em qualquer outro período da história – e isso significa que existem distorções de preços que os investidores podem tirar vantagem, assim como tem feito Buffett”, avaliou o Motley Fool, que segue otimista com o futuro de uma das práticas mais antigas de investimento: “value investing não está morto, nem tão pouco é imaterial”, concluiu.

fonte: InfoMoney